Capela do Senhor de Além

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Descrição

Há dias ao efectuar um passeio a pé pela margem do rio Douro entre  a Ponte de D. Luís I e a praia do Areinho (Gaia) ,  passei num local que denominado Capela do Senhor de Além. Foi com tristeza que vi o completo abandono e a grande degradação que chegou a este bonito local,  onde há uns anos atrás se realizavam piqueniques, festas com música e fogo de artificio em honra do seu santo. Dois dos sinos desta capela foram retirados pela Junta de Freguesia de Santa Marinha (Gaia) afim dos os preservar mas os restantes foram simplesmente furtados.

A história deste local é muito interessante, mostrando a rivalidade, mesmo religiosa, existente entre os habitantes das duas margens. O acesso às ruínas do Hospício e consequentemente da Fábrica de Louça foi difícil,  e até a maior parte das vezes impossível,  devido à vegetação imensa que tomou conta deste local.

Digite
Capela

Localização
Rua Cabo Simão – Vila Nova de Gaia

Data da Visita  

25-09-2014

Utilização Inicial
Religiosa

Notas Históricas

No ano de 1140, o Bispo do Porto,  D. Pedro Rebaldio, mandou construir no local onde actualmente existe o Mosteiro da Serra do Pilar , um convento de monjas de invocação ao santo São Nicolau. Durante essa construção foi achada uma imagem do Senhor Crucificado e para recolher essa imagem foi edificada uma ermida no sítio onde actualmente existe a Capela do Senhor de Além.

Em 1738, foi também construído naquele mesmo local um hospício, o hospício das Carmelitas, que ficou situado em frente à referida ermida. No ano seguinte, mais precisamente em 05 de Março de 1739, cinco frades Carmelitas Calçados tomaram conta desse hospício que funcionou até ao ano de 1832.  Passados dois anos, esse hospício foi vendido dando lugar a uma fábrica de louça, Fábrica de Louça do Senhor de Além.

No ano de 1877, no local onde existia a ermida, foi então construída a Capela do Senhor de Além,  evocando-se naturalmente o Senhor de Além, ficando, no entanto,  esta capela sob a administração do episcopado do Porto. Mais tarde, quando os monges de Grijó conseguiram construir o actual Mosteiro da Serra do Pilar, o Bispo D. Baltazar Limpo ordenou que as imagens de S. Nicolau, S. Bartolomeu e do Senhor Crucificado, fossem recolhidas na Capela do Senhor de Além.

Afim de acabar com as secas e  inundações, nomeadamente aquelas de que resultavam grandes cheias no Rio Douro, realizavam-se a partir deste local procissões pelo rio até à Foz do Douro. A festa anual acontecia sempre no 1º domingo do mês de Setembro. Este local era muito aprazível pela existência de fontes e arvoredos, e como se encontrava junto ao rio, era do agrado de muita gente que se lá deslocava para os seus piqueniques domingueiros.

Conflito religioso

Como foi dito, durante muitos anos esta capela foi administrada pela cidade do Porto. Quando se realizavam as “Procissões de Preces” que acontecia muitas vezes pelas razões atrás apontadas, os edis portuenses na qualidade de administradores do templo e da confraria, iam ao lado de lá buscar a imagem do Senhor de Além. que também era utilizada nas “Procissões de Graças”, como aconteceu em 18 de Novembro de 1755, pelo facto da cidade do Porto ter sido poupada ao grande terramoto que destruiu a cidade de Lisboa.

Ora, sempre que a Câmara ía ao lado de lá buscar a imagem do Senhor de Além, afim de a transportar para a Catedral do Porto, o transporte era feito com grande solenidade e no qual participavam o Cabido (corporação de cónegos) e as várias confrarias da cidade. Numa determinada altura, em que a imagem estava guardada na Catedral do Porto, a Câmara convidou os cónegos para estarem presentes em mais uma procissão para devolver a imagem à Capela do Senhora de Além .

Aquando o convite, os membros do Cabido entendiam que não deviam andar às ordens do edis e que estes não tinham qualquer autoridade para os convocar, pelo que não deixaram sair a imagem da Catedral. Instalou-se então um conflito entre o Município e os membros do Cabido.

Perante tal recusa, os vereadores iniciaram um processo jurídico envolvendo o Juiz da Coroa e a Mesa do Desembargo do Paço que, a 22 de Novembro de 1631, enviou um despacho favorável  à Câmara,  dizendo que os edis podiam levar a imagem mas de uma forma privada sem envolver qualquer procissão. Tal despacho não resolveu o impasse e em 1646 a questão mantinha-se como no princípio, ou seja, a cruz do Senhor Crucificado só deixaria a Sé quando os cónegos assim o entendessem.

Como o conflito nunca foi sanado,  a Câmara do Porto sempre que ia buscar o Senhor de Além ao outro lado do rio, em vez de o levar para a Sé, com era a tradição, passou a conduzi-lo para a Capela de S. Miguel-o-Anjo que também era administrada pela referida Câmara. Como a questão não se resolvia, os devotos de Gaia resolveram então mandar fazer uma  imagem do Senhor de Além igual à primeira e colocaram-na na Capela.

Fim

Fontes de pesquisa: Site da Junta de Freguesia de Santa Marinha, Germano Silva in JN, portojofotos.blogspot e monumentos desaparecidos.blospot

E agora as fotos…

 

 

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Acerca do Autor

Dar a conhecer o que está esquecido, abandonado e muitas das vezes em ruínas, de estruturas que muito contribuíram para o desenvolvimento do nosso país, foi sempre um dos meus desejos. Aliando esse facto ao gosto que tenho pela fotografia, encontrei nos Caça Devolutos um pequeno espaço que me permite mostrar e historiar um pouco algumas dessas ruínas, muitas delas bem às portas das nossas casas.

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