Fábrica de Cerâmica das Devesas – V.N.Gaia

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Sabendo que as antigas instalações da Fábrica de Cerâmica das Devesas estavam ao abandono num estado lastimoso, antes que desaparecessem por completo resolvi ir fotografá-las. As instalações situadas a norte, onde em parte se situava a área administrativa, estão bem melhor mas também numa situação precária.

Quando tentei aceder ao seu interior (norte) fui confrontado com um princípio de incêndio, tendo a polícia impedido de imediato o meu acesso. Passado dois dias voltei ao “local do crime” para tentar, mais uma vez, entrar e fotografar o que pudesse mas a insegurança era muita e desisti.

Trata-se de um grande edifício onde impera grande vegetação, uma legião de ratos e de intrusos que procuram aquele local para pernoitar e fazerem algo mais. Aliás foram estes, segundo se disse, que provocaram o incidente atrás relatado.

O vandalismo e as pilhagens ao material que ainda resta ou restava  (peças, moldes, telhas, azulejos…) foi enorme, tendo a maior parte desse  material sido posto à venda nas feiras de artigos antigos.

 

DADOS HISTÓRICOS:

A Fábrica de Cerâmica das Devesas localiza-se  perto da Estação Ferroviária das Devesas, em Vila Nova de Gaia,  a sua localização está directamente ligada a esta infra-estrutura ferroviária, uma vez que  a saída dos seus produtos era então encaminhada directamente para o embarque.

 

Este complexo  foi fundado oficialmente em 1865 por António Almeida Costa. Durante anos a fábrica foi gerida por uma sociedade constituída por António Almeida Costa (canteiro ornatista e principal figura nesta grande obra), José Joaquim Teixeira Lopes (estatuário e ceramista) e Feliciano Rodrigues da Roca (canteiro ornatista), tendo sido a mais importante produtora de artefactos cerâmicos para aplicação na Arquitectura do nosso país.

 

Até ao ano de 1915, ano da morte do seu principal fundador, esta unidade fabril dominou completamente a produção de azulejaria de fachada e de estatuária. É de realçar que o seu fundador encontra-se representado nos dois murais que ainda existem colocados nas paredes.

A fabrica transformou-se em poucos anos num dos complexos cerâmicos mais bem sucedidos da península ibérica, tendo sido apontadas para este sucesso,  as qualidades de associação completa entre a arte e a indústria, a habilidade empresarial, e a  boa qualidade do equipamento industrial, para além do bom aproveitamento do caminho de ferro.

Entre os anos 1881 e 1884,  foi criada uma secção de fundição no seu complexo fabril , passando esta unidade industrial a ser a única no Porto a ter capacidade para construir capelas sepulcrais com acessórios inteiramente produzidos nas suas instalações.

 

Este facto permitiu a esta estrutura ter uma grande vantagem em relação aos seus concorrentes. Todo o seu complexo foi desenvolvido num ambiente horizontal, sendo considerada, em termos de artes industriais,  a maior unidade fabril existente em em Portugal. O seu grande desenvolvimento industrial permitiu a abertura de uma sucursal na Pampilhosa do Botão (Entrocamento da Pampilhosa) , vocacionada exclusivamente para a produção de materiais de construção.

Também é de referir a construção,  junto ás instalações sul, de um bairro operário  cujas as paredes  foram ornamentadas com azulejo de enorme qualidade, dando-lhes alegria e vida.

Actualmente, ainda se pode ver ainda vestígios de uma  enorme parede de azulejos do tipo Arte Nova que servia  de mostruário ao público que passava nas suas imediações. É pena que a maior parte do material exposto tenha sido roubado para venda a coleccionadores, nomeadamente na Feira da Vandoma.

Este imóvel considerado de interesse público pela sua relevância na economia do Norte do país, aguarda classificação desde 1991 pelo IGESPAR (Instituto  de Gestão Património Arquitectónico e Arqueológico), data em que foi dado o início do processo pelo Presidente do então IPPAR (Instituto Português do Património Arquitectónico).

O desencontro de opiniões entre os proprietários e os organismos estatais  envolventes em todo este cenário não tem ajudado à concretização deste processo. Possivelmente a ideia da criação de um museu não passará do papel…….afinal estamos em Portugal !

 

Fernando Lapa Gonçalves

Nota: Fonte de pesquisa: Internet

 

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Acerca do Autor

Dar a conhecer o que está esquecido, abandonado e muitas das vezes em ruínas, de estruturas que muito contribuíram para o desenvolvimento do nosso país, foi sempre um dos meus desejos. Aliando esse facto ao gosto que tenho pela fotografia, encontrei nos Caça Devolutos um pequeno espaço que me permite mostrar e historiar um pouco algumas dessas ruínas, muitas delas bem às portas das nossas casas.

1 comentário

  1. Fiz o 1.º ciclo num dos edifícios fotografados (externato novo lar) em que nas traseiras (jardim) se situam as estátuas também fotografadas. Em frente à fábrica havia outra onde cheguei a entrar para ver fornos enormes ainda em funcionamento.
    É uma pena estar tudo em ruínas. Muito triste!

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