Antiga Seca do Bacalhau – Vila Nova de Gaia

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Desta vez, venho dar a conhecer uma grande unidade industrial que funcionou em Vila Nova de Gaia e que muito contribuiu para a nossa economia e para o bem estar dos habitantes do Lugar de Lavadores. Estou a falar da antiga e bem conhecida Seca do Bacalhau de Lavadores – Vila Nova de Gaia.


Para obter alguns elementos sobre esta fábrica, uma vez mais recorri ao Arquivo Histórico da Câmara de Gaia, analisando para isso os processos de ampliação datados de 1959 (Proc.147 e 6989).

Nos anos 40, a Socidade Nacional dos Armadores do Bacalhau – SNAB,  mandou construir , junto à praia de Lavadores em Canidelo, Vila Nova de Gaia,  uma estrutura industrial com 15 hectares,  dedicada unicamente à secagem e preparação do bacalhau.

As suas instalações foram inauguradas em 1945,  ficando situadas numa área elevada de terreno com vistas privilegiadas para o mar e para a entrada da Barra do Rio Douro. Durante o “meu passeio” verifiquei que ainda lá se encontra numa das paredes uma placa comemorativa, celebrando os 15 anos de “vida” daquela unidade industrial, colocada aquando um Congresso da Associação dos Armadores .

Espelhados pelo terreno ainda se podem ver os pilares em pedra alinhados paralelamente, os quais anteriormente se encontravam ligados uns aos outros por uma rede de arames onde os trabalhadores colocavam o bacalhau a secar ao sol .

Após algumas obras de ampliação ocorridas nos anos 60, esta estrutura passou a ter condições de trabalho invejáveis para a época, tendo em conta que a maior parte dos seus funcionários eram do sexo feminino.

Deste modo, foram construídos um refeitório com separação de salas (homens/mulheres), uma creche, um posto médico, uma sala de enfermagem, um dormitório para bebés, espaços para amamentar e proceder à limpeza dos bebés, sala de repouso e sala de jogo. Para além destas benesses a fábrica também possuía uma pequena piscina para usufruto dos seus funcionários, mas não sei em que condições ela funcionava a nível de acesso.

Foram nestas instalações que muitos habitantes do lugar de Lavadores e de muitas freguesias de Vila Nova de Gaia, e também da cidade do Porto, ganhavam o seu sustento. Pelos relatos de quem viveu aquela época, esta unidade fabril possuía mais mil trabalhadores, nomeadamente mulheres como já se referiu,  cuja função era transportar o bacalhau da secagem para os armazéns e vice versa através de carrinhos de mão, o que geralmente acontecia logo de manhã e ao entardecer, e sempre antes da chegada dos nevoeiros muito predominantes aqui desta zona. Os armazéns de secagem possuíam também como apoio 4 câmaras frigoríficas.

Para além do já referido, os proprietários desta fábrica mandaram também construir uma capela, denominada de S.Pedro , onde era efectuado o apoio religioso aos seus trabalhadores. Esta capela foi construída em estilo moderno em forma de concha possuindo uma decoração interior alusiva a motivos marítimos. Embora construída nos terrenos da Seca, esta capela manteve sempre o culto religioso católico com abertura regular à presença de fiéis do Lugar de Lavadores, privilegiando inicialmente os idoso e mais tarde os restantes habitantes do lugar.

A ida a esta capela poupava aos seus habitantes  uma caminhada de alguns quilómetros para assistirem à Eucaristia dominical, uma vez que, para esse efeito, tinham-se de deslocar à Igreja Paroquial de Canidelo.

Após entrar nas suas instalações,  fui agradavelmente surpreendido com uma série de graffitis de elevada qualidade, conforme se pode ver nas fotos 29 a 35 anexas. Nota-se , igualmente, que todo o terreno serve actualmente para o desenvolvimento/promoção de  actividades de entretimento, tais como jogos de paintball, airsoft e até treinos de motocross.

Devido à desactivação desta unidade fabril, estes terrenos  irão (ou já foram) vendidos pelo Estado a uma empresa imobiliária,  cujo projecto irá permitir a construção de diversos edifícios de habitação de dois a seis pisos e um hotel.

As fotos do local:

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Acerca do Autor

Dar a conhecer o que está esquecido, abandonado e muitas das vezes em ruínas, de estruturas que muito contribuíram para o desenvolvimento do nosso país, foi sempre um dos meus desejos. Aliando esse facto ao gosto que tenho pela fotografia, encontrei nos Caça Devolutos um pequeno espaço que me permite mostrar e historiar um pouco algumas dessas ruínas, muitas delas bem às portas das nossas casas.

3 comentários

  1. Dan Martins on

    Ola, gostei do interesse mostrado por este local, cresci la ate aos meus 16anos e muito mais poderia dizer sobre este local que cada vez mais disperta a atencao dos gaienses e seus visitantes, gostaria tambem de acrescentar que a seca nunca teve uma piscina mas sim um tanque de arrefecimento de agua parecido com uma piscina que era usada no arrefecimento da seca “artificial” fazendo esse tanque parte de um circuito entre o deposito “conhecido por torre” motores da seca artificial e finalmente tanque onde a agua finalmente repousava e arrefecia um pouco antes de voltar para o deposito, pena mesmo que este local ainda nao seja classificado como de todos e para todos ao inves dos tao falados condominios privados para ali projetados, um disparate.

    • Eu também passei a minha juventude na Praia de Lavadores e de Salgueiros e cheguei a conhecer esta unidade fabril quando funcionava, mas naquela altura só me interessava pela praia. Agora com os anos a gente começa a recordar e foi isso que me levou até áquele lugar.

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